
Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto
Biografia
1.º Visconde de Serpa Pinto, nasceu em Tendais, Cinfães, a 20 de Abril de 1846 e morreu em Lisboa a 28 de Dezembro de 1900 com apenas 54 anos. Foi um militar, explorador e administrador colonial português.
Nasceu na freguesia e paróquia de Tendais, casa e quinta das Poldras, concelho de Cinfães, no dia 20 de Abril de 1846, filho do Miguelista José da Rocha Miranda de Figueiredo (1798-1898), médico, e de sua mulher D. Carlota Cacilda de Serpa Pinto, sendo neto homónimo, pelo lado materno, do famoso liberal, militar e político, Alexandre Alberto de Serpa Pinto (falecido em 1839).
Ingressou no Colégio Militar com dez anos e aos dezassete tornou-se no seu primeiro Comandante de Batalhão aluno.
Serpa Pinto viajou pela primeira vez até à África oriental em 1869 numa expedição ao rio Zambeze. Integrava uma coluna de quase mercenários, cujo objectivo conhecido era o de enfrentar as milícias do Bonga, que já infligira nas tropas portuguesas várias e humilhantes derrotas. Mas Serpa Pinto integra a coluna como técnico, avaliando a rede hidrográfica e a topografia local.
Casou em 1872 com D. Angélica Gonçalves Correia de Belles, natural de Faro, filha de Pedro Luís Correia de Belles e de D. Maria Joaquina Gonçalves e tiveram uma filha, Carlota Laura de Serpa Pinto.
Em 1877 Serpa Pinto é nomeado por Decreto de 11 de Maio do mesmo ano, para participar numa expedição científica à África Central.
A expedição de Serpa Pinto tinha como objectivo fazer o reconhecimento do território e efectuar o mapeamento do interior do continente africano, para preparar a entrada de Portugal na discussão pela ocupação dos territórios africanos que até então apenas utilizara como entrepostos comerciais ou destino de degredados. A «ocupação efectiva», sobre a ocupação histórica, determinada pelas actas da Conferência de Berlim (1884-1885) obrigou o Estado Português a agir no sentido de reclamar para si uma vasta região do continente africano que uniria as províncias de Angola e Moçambique (então embrionárias) através do chamado "mapa cor-de-rosa"; esta intenção falhou após o ultimato britânico de 1890, o «incidente Serpa Pinto», já que nela interveio o explorador, ao arrear as bandeiras inglesas, num espaço cobiçado e monitorizado pela rede de espionagem do Reino Unido, junto ao lago do Niassa.
A aventura de Serpa Pinto, travessia solitária e arriscada, moldaram a imagem de um homem intrépido que concedeu ao militar uma aura de heroicidade necessária às liturgias cívicas e às celebrações dos feitos passados, quando Portugal atravessava uma grave crise política e moral. Nesse sentido a sua figura foi explorada como o novo herói, das novas descobertas que já não passavam por sulcar os mares, mas rasgar as selvas e savanas de África como forma de manutenção do prestígio internacional na arena diplomática europeia.
Morreu a 28 de Dezembro de 1900. A sua figura é ressuscitada pela filha, Carlota de Serpa Pinto, figura de relevo no meio cultural lisboeta, que o glorifica como ídolo heróico do Estado Novo, aventureiro e administrador colonial, em detrimento do político e cientista (embora este estatuto que, por vezes, lhe foi imposto, seja o mais discutido de todos). Autora de uma biografia de seu pai, "A Vida Breve e Ardente de Serpa Pinto", Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1937.
Foi nomeado cônsul-geral para o Zanzibar em 1885 e governador-geral de Cabo Verde em 1894.
Tanto o Rei D. Luís I, como o seu filho Carlos I de Portugal, nomearam-no seu Ajudante de Campo e o segundo concedeu-lhe, em duas vidas, o título de 1.º Visconde de Serpa Pinto (1899).
.A vila de Menongue, no sudeste de Angola, foi chamada Serpa Pinto até 1975 em alusão a este explorador.
Bibliografia
Como eu atravessei a África (Vol. I)
Como eu atravessei a África (Vol. II)
Excerto do "Diário de África"
PRÓLOGO
"Não tem pretensões a obra de literatura este livro. Escrito sem preocupação da forma, é a fiel reprodução do meu diário de viagem.
Cortei nele muitos episódios de caçadas, e outros, que um dia no descanso, produziram um volume de carácter especial. Busquei sobre tudo fazer realçar o que mais interessante se tornava para os estudos geográficos e etnográficos, e se não me pude eximir a narrar um ou outro dos muitos episódios dramáticos que abundaram na minha fadigosa empresa, foi quando a esses episódios se ligavam factos consequentes, de importância, já para alterar o itinerário projetado, já determinando demoras, ou marchas precipitadas, que seriam incompreensíveis sem a exposição das causas determinantes.
À Europa, e em geral ao homem que nunca viajou nos sertões do interior de África, não é dado compreender o que se sofre ali, quais as dificuldades a vencer a cada instante, qual o trabalho de ferro não interrompido para o explorador."
