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Carlos Lyster Franco

Biografia

Foi professor na escola Secundária Tomás Cabreira em 1901 e morreu a 1952.

 

Natural de Lisboa, veio para Faro em 1901. Foi professor, comissário distrital de Polícia, director do Posto

Meteorológico D. Francisco Gomes, jornalista, pintor. Presidente da Câmara Municipal de Faro em1919 e Vereador da mesma autarquia em 1919-22. Carlos Lyster Franco leccionou nas Escolas Pedro Nunes, Escola Normal Superior, Escola Tomás Cabreira e Escola do Magistério Primário.

 

É deveras impressionante a aptência e preparação profissional deste homem, que foi professor em várias escolas da cidade mas em matérias diferentes, o que, certamente lhe exigia uma preparação sólida mas diversificada.

 

Foi comissário de Polícia onde certamente lhe era exigido o conhecimento de leis, foi director do Posto Meteorológico onde lhe exigiram conhecimentos de geografia física, como jornalista deveria ser possuidor de bons conhecimentos de literatura, como pintor deveria ser possuidor de intuição e habilidade de mãos e ainda conhecimento de gestão de empresas para estar preparado para o desempenho do cargo de Presidente e vereador da Câmara.

 

Morreu a 1959 em Faro,,

 

A cidade dedicou-lhe evidência, pela atribuição do seu nome à Praceta do Pintor Lyster Franco (1880/ 1959), que se situa entre as ruas Ventura Coelho e Francisco Barreto, donde talvez se possa deduzir que foi nesta área que mais se notabilizou.Em conversa sobre esta matéria com o meu particular amigo e amigo fidelíssimo da cidade de Faro, o Dr. Libertário Viegas, fiquei a saber que o pintor Carlos Lyster Franco é pai de outra grande personalidade que igualmente muito contribuiu para o enriquecimento do património cultural da cidade. Na verdade, Mário Augusto Barbosa Lyster Franco, o filho, foi, durante mais de setenta anos, o diplomata da região, participando em conferências, muitas das quais de sua inteira iniciativa, publicando jornais, livros e revistas, organizando exposições, enfim, fomentando e divulgando a «cultura algarvia», tanto no Algarve, como em Lisboa.

Bibliografia

Algumas das suas obras são:

 

Um grande escultor : John Flaxman e a sua obra

 

O pintor Joaquim Porfírio : grande propagandista de Allongé

 

O pintor Constantino Fernandes

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Conto "A Janella Gothica"

 À EX.MA SR.A D. Clotilde Feio Soares de Azevedo.

 

   Doce sonho, suave e soberano,

   se por mais longo tempo me durara!

   Ah quem de sonho tal nunca acordara,

   pois havia de ver tal desengano!

 

                            Luís de Camões.

 

 

Um encanto! Um primoroso encanta, a janela gótica[1] da capela do palácio!

 

Imagina uma série de alucinantes visões cristalizadas no mármore, e tereis uma ideia pálida dos motivos lindos que lhe ornavam a cantaria[2].

 

Contudo, o mais formoso de ver-se eram os vitrais[3]! Oh! Os vitrais!

 

Quando amanhecia e o ar começava doirando-se[4] na limpidez pura das alvoradas de Maio, reluziam eles, pouco a pouco, qual visão que gradualmente saísse de uma penumbra irisada[5], a lembrar a revelação de mundos fantásticos surgindo através um véu de brumas coloridas.

Porém, mais tarde, sob a ardência dos primeiros raios do sol é que os vitrais brilhavam em todo o esplendor do seu deslumbrante matiz!

 

Irisando o ar com lampejos astrais, repletos de prodigiosos e brilhantíssimos efeitos, as cores refulgiam e, ao centro, num halo todo doirado, recortava-se, em linhas cheias de graça, nítida e perfeita, a linda imagem de uma Virgem.

 

Era uma daquelas aparições ideais que os bizantinos tentaram estilizar nas suas inimitáveis tapeçarias ricas em oiro e purpura ou fixaram, no esmalte polícromo[6] dos azulejos destinados a adormecerem, à luz dúbia dos ciriais[7], no recôndito misterioso das basílicas vetustas.

 

Um primor de beleza!

 

No rosto pairava-lhe uma expressão de inefável bondade e parecia um poema de esperanças o seu olhar feito de luz.

 

Diluíam-se no éter as dobras ondulantes do seu longo manto azul.

 

Reluzia em mil fulgores de gemas raras o seu brial[8] de tela rica e dir-se-ia que ela — a linda Virgem — viera do céu, assim aureolada, apenas para mostrar-nos o seu divino sorriso.

 

Nesses tempos descuidosos da minha infância, quando ainda mal sabia repetir as orações que me ensinavam, quantas vezes... quantas! Permaneci longas horas, embevecido[9] na contemplação daquela linda Virgem loira!

 

Fanava à minha intuição de criança aquele prodígio da Arte!

 

Deslumbrava-me aquela celestial beleza.

 

Que delicioso enervamento[10] vinha dominar-me, sempre que me encontrava sob a carícia do seu olhar suave.

 

Quantas vezes, naqueles arroubamentos de vago misticismo[11], não senti enlevar-se-me o espírito, ascendendo a unia misteriosa região que me parecia toda feita de luz!

 

Como eu sonhava!

 

E que deliciosos sonhos aqueles, assim perfumados pelo aroma subtilíssimo de flores ignotas[12], nascidas da essência da minha própria alma!

 

Sonhos ridentes! Saudosos sonhos!

 

Caiu em ruivas a veneranda capela do palácio.

 

Decorreram anos.

 

Mãos profanas vieram apedrejar a encantadora janela gótica, quebrando-lhe, barbaramente, os lavores primorosos do mármore e os belos vitrais coloridos, destruindo, assim, para sempre, a imagem da linda Virgem.

 

Perdeu-se... sumiu-se... voou, talvez para o céu, aquela visão astral!

 

Assim o Destino, o implacável Destino, dia a dia, vai apagando, no âmbito dos nossos sonhos, todas as imagens luminosas, sínteses das nossas mais queridas aspirações, das nossas mais ridentes esperanças!

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Glossário

[1] Estilo artístico que se espalhou na Europa do século XII à Renascença.

[2] Pedra rija, grande e esquadrada, para construções.

[3] Painéis decorativos (comuns em igrejas e capelas), feito de vidros coloridos e transparentes, em geral formando desenhos.

[4] Tornar-se brilhante; iluminar-se.

[5] Abrilhantar com as cores do íris.

[6] Que tem muitas cores.

[7] Lanterna com vela acesa que se leva ao lado da cruz alçada.

[8] Espécie de camisola que os cavaleiros armados vestiam sobre as armas ou, quando desarmados, sobre o fato interior.

[9] Que está imerso num pensamento e alheio ao que o rodeia.

[10] O mesmo que enervação.

[11] Crença na possível comunicação entre o homem e a divindade.

[12] Desconhecido; ignorado; obscuro.

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